segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Sob a Lua de Ragnar | Prólogo | Parte 2

VOLUME I - SOB A LUA DE RAGNAR

Prólogo




Quitandas, bazares, ambulantes, punguistas, malabaristas, vendedores de doces, de salgados, ferreiros mostrando suas armas, armaduras, ferramentas, comerciantes de amuletos, artefatos, todos falsos, talvez verdadeiros, talvez. Tavernas cheias, hospedarias sem vagas, vagas em estábulos, promoções em locais suspeitos, cheiro de peixe, de carne, fumaça, esgoto, suor, perfume élfico, de amor, de sangue, sujeira, de lama, a mesma que enche os pés, a poeira o ar. Placas, muitas placas, avisos por toda a parte, comida, diversão, jogos, mais barato, mais emocionante, traga seus filhos, ele já foi companheiro de Niele, veja um filhote de dragão, veja um homem tocado pela Tormenta, pague por 2, leve 3. Grandes tendas oferecendo desafios de esgrima e arco, luta e montaria. Pessoas, muitas pessoas, de tamanhos, cores e formas diferentes. Muitas. Juntas, pedindo licença, empurrando, pedindo desculpas, pedindo um tibar para comprar pão, pedindo informação, pedindo a carteira de alguém ou apenas pegando sem avisar, trovadores, bardos, artistas mostrando sua arte, música vazando de portas, janelas, tendas, línguas, muitas línguas, humanas, élficas, anãs, outras. Pessoas gritando, cochichando, conversando, abraçando, beijando, correndo, andando, pulando e agachando. Animais de carga, estimação, animais fantásticos, trobos, cães, gatos, ratos, familiares, companheiros animais, animais humanoides. Erudhir estava parado no meio de uma multidão, olhos vagos, o desconforto explícito para qualquer conhecido ou desconhecido. A Grande Feira de Malpetrim não era o lugar mais aprazível para um clérigo de Allihanna.
-Parou outra vez – comentou uma voz logo atrás de Tomoe.
-Isso vai levar o dia todo – lamentou o samurai.
O paladino assentiu com a cabeça.
-Um incapaz e um mudo, perfeito – se lamentou novamente o samurai.
Tomoe foi até o elfo, pôs a mão esquerda em suas costas e empurrou gentilmente.
-Vamos, Erudhir, vamos procurar uma taverna, comer e pegar um quarto. Lá vai ser mais calmo e talvez encontremos um estábulo ou quintal para dormires.
-Duvido – disse Eld.
-Isto aqui é bem agitado, muito bagunçado, as pessoas não têm educação alguma. Um samurai tendo de pedir passagem para os plebeus. Alguém menos paciente já teria sacado a katana.
-Hunf – retrucou o paladino.
-Meus amigos de vidas curtas, por favor, dói dizer, mas vamos procurar uma taverna – suplicou Erudhir, mãos nos ouvidos, tentando fazer o barulho parar.
Tomoe olhou por cima da multidão e avistou uma pequena placa alguns metros à frente.
-Não sei bem se é a melhor opção, o nome é péssimo, “Javali Perneta”. Um nome destes não pode ser um lugar adequado – disse, olhando para o paladino e o clérigo, com um pequeno incômodo por nenhum deles buscar acomodações adequadas para alguém de sua classe – Mas vai ter de servir – pensou alto, resignado.
O trio caminhou até a taverna, empurrou a porta e entrou, sendo recepcionado pelo odor de cerveja barata, suor e carne queimada. A construção possuía uma escada de madeira que levava ao andar inferior, onde se acumulavam mesas, cadeiras e pessoas. O grupo desceu até o andar das mesas, no alto janelas altas mostravam alguns pés apressadas da rua, do lado oposto do salão uma escada subia levando para quartos. Eld foi na frente, não para desbravar o lugar, mas por estar cansado e querer uma cadeira, sentou em uma mesa vaga e foi alcançado pelos outros dois.
-Hunf – disse, Eld.
-É – confirmou Tomoe.
-Que pesadelo, estou abaixo da terra em uma cidade de humanos e você dois se comunicam em uma língua própria – balbuciou Erudhir.
O lugar era barulhento e estava bastante cheio, próximo à escada dos quartos um bardo cantava sobre um guerreiro solitário e sua amada amaldiçoada por um lich, de como o vilão torturou a mulher para obrigar o homem a cumprir tarefas das mais difíceis, que no fim o lich era irmão gêmeo do guerreiro, aliado de Sszzaas e a mulher irmã desaparecida dos dois, que se arrependeram em diversos níveis. O público não parecia especialmente interessado na trama, o bardo, percebendo a apatia, inseria pequenas ofensas ao público, que passavam despercebidas dada a generalizada embriaguez e desinteresse. Apenas um paladino de Khalmyr recém-chegado ouvia, reparando nas ofensas ao público e balançando a cabeça em aprovação. Grupos bebiam desregradamente no meio do dia, para o horror de Tomoe, a cerveja rala derramada por toda parte tornava o aroma ambiente convidativo para uns, como o é o cais com seu cheiro de peixe. Dois homens rastejavam no chão, barba suja de comida, cabelos emaranhados com coisas misteriosas e sujeira pura e simples, um deles tinha um caneco na mão e bebia o que errava o chão. Uma mulher grande e forte, cabelos longos, cacheados e loiros, com uma loriga segmentada, batia em um homem vestido com uma camiseta rósea esvoaçante, lhe esfregando o rosto na parede enquanto apontava para sua amiga que, corada, olhava para outro lado.
-Benvindos à Javali Perneta, no que posso lhes ajudar? – uma voz questionou por trás do elfo.
Era uma garota humana, pele morena do sol, cabelos castanhos e cacheados ocultos por um lenço amarelo, não media mais de um metro e meio. Ela aguardou, sorriso aberto, o rosto cheio de sardas se iluminou quando viu o elfo.
-Ooooi! Eu acho elfos muito legais! Lamento muito pelos goblinóides terem matado todos vocês! Meu nome é Janice, vou servir vocês hoje. Nooooossa, um cara de Tamu-ra! Morreu muita gente lá também, ouvi dizer, alguém da sua família ficou vivo?
Janice ficou aguardando pelo pedido enquanto Tomoe e Erudhir tentavam entender se aquilo fora dito como insulto ou troça. Por alguns momentos os quatro apenas se olhavam, até que alguém, que não ligava para toda aquela situação, quebrou o silêncio.
-Água, carne e pão – disse Eld – o samurai paga – completou.
-Espero que esta cidade nos traga oportunidades, paladino, nunca fui tão pobre quanto hoje. Para mim carne, queijo, pão e... não tens nada de Tamu-ra, tens?
-Temos um empregado que diz que o avô era tamuriano, serve? – informou Janice.
-Só carne, pão, queijo e cerveja – sentenciou Tomoe.
-Tem queijo? Quero – acresceu Eld.
-Pão, queijo e cerveja, talvez algumas batatas, se for possível – pediu um aturdido Erudhir.
-Claro, senhor elfo, o senhor é muito bonito, espero que sua família ainda esteja viva. Vou trazer tudo.
-Meu irmão teve uma filha, ela tinha o seu tamanho – Erudhir pegou carinhosamente a mão da menina, cerrou os olhos e fez uma breve prece, sussurrando palavras élfica, fazendo um leve brilho quente e dourado passou de sua mão para a da menina.
Janice olhou para ele, olhos esbugalhados, algo entre o choque, alegria extrema e êxtase.
-MAGIA DE ELFO! QUE L E G A A A L! Isso é muito bom, seu elfo, o que você fez?? – perguntou a menina.
-É algo que fazia por minha sobrinha quando morávamos juntos, ajuda a ter forças para o dia – ele sorriu – Pode nos trazer a comida agora? Estamos com fome – e sorriu novamente.
Ela saiu distraída olhando para a mão e sorrindo, no caminho anotou o que os três pediram, para não esquecer, se voltou para trás e olhou para o elfo, que ainda sorria com os olhos. Com vergonha deu um pulinho e saiu correndo.
-Não sabia que tinhas família, Erudhir, não havias nos dito nada – disse Tomoe, enquanto afrouxava a armadura para sentar de forma mais confortável.
-É, não disse – confirmou o clérigo, ainda sorrindo.
Eld olhou os dois, percebendo que algo estava sendo oculto pelo elfo, mas ele realmente não ligava. Se fosse importante descobriria, se Erudhir quisesse falar, não precisaria perguntar. Concluiu que não valia a pena falar nada. Não falou.
-Gente, uma hora vocês terão de parar de me ignorar, até porque era pra cá que eu ia trazer vocês, meu amigo está ali do outro lado. É o de cabelos brancos com um manto e lendo um livro, dá até vergonha dele – disse Lili.

*****

Uma hora antes.
-Até que é fascinante esta cidade humana, incômoda, mas fascinante. Não é o jeito de Allihanna, todavia Valkaria tem seus encantos. Os humanos são interessantes em seus modos toscos e apressados.
Tomoe se colocou em frente ao elfo, mãos posicionadas para sacar a katana.
-Cuidado com o que diz, elfo! Nós tamurianos também somos humanos! Chame meus ancestrais de toscos novamente e terei de esquecer nossa amizade e duelaremos!
-Não foi minha intenção ofender, Tomoe, apenas uma observação cultural de alguém mais velho. Em Tamu-ra se respeita muito a idade, não? Saiba que há dois séculos eu já era mais velho do que você é hoje – apaziguou o elfo.
-É bem verdade que respeitamos os mais velhos, porém não abuse – e relaxou a postou de ataque.
-Que vergonha, um samurai abaixando a guarda no meio de uma luta – disse Eld.
Tomoe se voltou para o paladino, postura de luta refeita, olhos de um guerreiro. Eld, porém, não fazia a menor menção de pegar a espada, o escudo jazia intocado nas costas.
-Pfff, do outro lado, samurai – apontando para algo atrás de Tomoe.
Uma pequena confusão se anunciava. Pessoas aglomeradas gritavam, vozes misturadas falavam muitas coisas diferentes ao mesmo tempo. Todavia uma voz era ouvida com clareza.
-CÊ TÁ LOUCO, CARA? FALA NA MINHA CARA ISSO OUTRA VEZ, SEU BOSTA!
Tomoe foi em direção à comoção, seguido por Erudhir e Eld. Várias pessoas já se acotovelavam para assistir seja lá o que estivesse acontecendo, eles avançaram na multidão, o samurai na frente, sem pedir por favor uma única vez, apenas caminhando, puxando e empurrando toda aquela gente que teimava em não abrir caminho. Então ele viu.
-Erudhir, estão atacando uma criança! – avisou.

*****

Depois, na taverna.
Lili voltou para a mesa dos três com um homem alto, cabelos brancos, pele clara e orelhas pontudas.
-Bain, esse é o Erudhir, esse Tomoe e esse aqui o Eld, ele é mudo, acho.
-Olá, é um enorme prazer lhes conhecer, há muito tempo não via um tamuriano ou um elfo, me solidarizo com suas dores – cumprimentou Bain, dobrando levemente o corpo e levando a mão até o peito.
Tomoe se curvou levemente, mãos rentes ao corpo.
-Também é um prazer.
Erudhir se adiantou.
-Que Allihanna lhe abençoe, caro amigo – e abraçou o feiticeiro – Já vi muitos elfos, você parece, mas não é um. Aggelus?
-Sim, somos raros, impressionante que tenha percebido, impressionante mesmo, sou idêntico a um elfo – admirou-se Bain.
-Você não cheira como um – riu o elfo.
-Não gosto de magia arcana – comentou Eld, estendendo a mão para Bain, olhos sérios e plenos de justiça.
-Ah, ok, vou tentar lembrar disto. Ã, Lili, como você os conheceu? – quis saber Bain.
-Eles se meteram em uma briga, foi uma confusão. No fim tive que salvar os três – ela olhava e sorria para o aggelus.

*****

Antes, nas ruas de Malpetrim.
A turba cercava a garota, uma halfling, que era confrontada por um homem bastante irritado. Pessoas se acotovelavam para melhor assistir, na esperança de ver um pouco de sangue, alguns gritavam pela milícia, outros gritavam para deixar que eles se resolvessem sozinhos, seria mais divertido e educativo para as crianças que ali estavam.
-Falo quantas vezes precisar, bandidinha! Devolve o meu ouro! Ou vou levar você pra guarda, só que antes vou te quebrar toda! – ameaçou um homem, muitos músculos e litros de cerveja, pouca noção do que fazia no meio da rua.
A garota parecia chocada, uma leve contração no rosto demonstrou o asco que sentia ao ouvir a acusação. Ela revirou os olhos e respirou entre os dentes.
-Cara, cê não tem noção das coisas, não? Por que euzinha iria roubar? Olha pra mim, sou linda, cheirosa e maquiada, faz favor né! A minha bota de couro vale mais do que você inteiro! – argumentou a halfling.
-Esvazia os bolsos então! – gritou o homem.
-Eu nem tenho bolsos, olha! Essa minha calça é de grife! – e mostrou que não tinha onde colocar a tal bolsa.
Ela mostrava a calça, a falta de bolsos, a idiotice do homem que acusava sem provas. A população ali reunida começou a rir da situação, fazendo pouco do homem, alguns gritavam que ele tinha gasto tudo com bebida e não queria apanhar em casa. A pequena garota ria do sujeito, gargalhava ao ponto de balançar. Então a bolsa de ouro caiu de algum lugar abaixo dos seus cabelos.
-Opa – Lili olhou para o homem, que agora tinha a companhia de outros, indignados com a pequena ladra.

*****

Depois, entre amigos.
-Permita-me apenas corrigir algo que a pequena disse – pediu Tomoe.
-Meu anjo, não tem nada para corrigir, até porque né, já passou, quem vive de passado é museu e clérigo de Tanna-Toh, ou então bardo, mas só um dos três ganha dinheiro com isso. Vamos tocar a vida e esquecer tudo – pediu Lili, fazendo parecer que não pedia.
-Não posso deixar as coisas assim, aconteceu de forma diferente – tentou Tomoe novamente.
-Vocês brigaram, não? Tirei vocês de lá, não? Como que aconteceu de outro jeito, samurai? Tá dizendo que eu tô mentindo? Quer fazer parecer que não aconteceu o que falei? Cadê a honra dos tamurianos? Lin-wu tá vendo! – Lili olhava nos olhos de Tomoe.
-Eu, bem... – o samurai não sabia como continuar.
Tomoe não conseguia avançar na discussão, a pequena mulher tinha a língua rápida e feroz, fazia voltas, enganava, ele odiava aquilo, porém não conseguia encontrar qualquer brecha para se opor. Para piorar, era uma mulher, ele sequer podia propor um duelo. Ele fora derrotado e sabia.
-Ela roubou um cara e foi pega, cercaram, ameaçaram dar uma surra, e começaram a dar uma surra, até, ela começou a gritar. Salvamos a diaba e ela fugiu. Fomos atrás e agora ela diz que nos tirou da briga. Pfff – disse Eld.
-Odeio paladinos – suspirou Lili.

*****

Antes, fazendo amigos.
O homem avançou, deu três passos firmes em direção à halfling, enquanto andava tirava do cinto um porrete quase do tamanho da adversária. A arma de madeira desceu violenta para encontrar terra seca, a jovem, de forma ágil, desviou do golpe enquanto sacava sua adaga. Ela ainda estava no chão quando outro homem avançou da multidão e tentou um chute, acertando apenas o ar, a garota de calça de grife desviava graciosamente, fazendo parecer fácil. Ela sorriu, eram apenas bêbados mal treinados. Então veio a dor. Um chute nas costelas vindo de trás, um rapaz, não mais de quinze anos, emergiu da turba sem fazer barulho para atacar sorrateiramente. O golpe a fez perceber sua situação, estava cercada por pessoas hostis e bêbadas, algumas querendo ver sangue. Ela sentiu outro golpe pelas costas, cuspiu sangue no chão, o frio do metal ainda se fazia sentir. Nas mãos de um dos homens uma espada curta pingando sangue.
-PAREM JÁ, MALDITOS, COMO OUSAM ATACAR UMA DAMA, UMA INFANTE, DIANTE DE MEUS OLHOS! RECONHEÇAM SUA POSIÇÃO E SAIAM DAQUI – vociferou Tomoe, abismado com a falta de modos, com a incapacidade daqueles homens e mulheres de se colocar em seu devido lugar.
Todos olharam para aquele estranho homem com olhos assassinos que gritava. Porém o que lhes verdadeiramente impressionava era a espada em suas mãos, que emanava uma leve chama, os mais próximos percebiam não ser uma ilusão, era quente. O metal parecia incandescente, o samurai, entretanto, não sentia qualquer dor, segurava o cabo de maneira firme e ameaçadora.
-Deixem a garota em paz ou tentem sua sorte comigo – ameaçou ele.
Lili não perdeu tempo, a vida sempre lhe mostrara que oportunidades foram feitas para serem aproveitadas. E ela aproveitou. Enquanto o homem fazia o discurso e ameaçava os outros, ela atacou. Com um salto rápido chegou até o sujeito do porrete e atacou com a adaga, lhe ferindo fundo o pé direito. O sangue jorrou, o fazendo soltar a arma e gritar. Como que libertos do transe os outros atacaram, Lili se esquivou do primeiro, do segundo, porém o terceiro estava em seu ponto cego e com uma espada curta, novamente. Ele era bom. O homem baixo investiu contra a halfling, ela não conseguiu desviar, pôde tão somente se preparar para o golpe que não veio. Ouviu apenas o som de metal contra metal. Um escudo surgiu ao seu lado, preso ao braço forte de um homem armadurado.
-Pffff – disse ele.
Tomoe investiu, espada em punho, pronto para matar o bastardo que atacara a criança com uma arma letal. Então parou. Sob seus pés pequenas plantas lhe atrapalhavam o movimento, o mesmo abaixo de todos em uma grande área ao seu redor.
-Ei, acho que já está bom, certo? – gritou Erudhir, além da multidão.
-Tomoe – chamou Eld.
-O que foi? – perguntou Tomoe, irritado com a briga interrompida.
-Ela fugiu – disse o paladino, dando de ombros – pode ficar e brigar, mas estou com fome. Vou embora.
-Também estou, vamos – aceitou – eles não valem a pena – disse olhando para os homens presos na magia da natureza, enquanto guardava sua espada na bainha e fazia o brilho do fogo sumir.
-Outra coisa, Tomoe, não é uma criança, é uma halfling. É tão básico que não quis falar antes. Vamos – acrescentou o paladino, nenhum sorriso de vitória no rosto, apenas o reflexo da justiça.

*****

Depois da confusão, antes da taverna.
-Sabem, me sinto menos amoroso para com Malpetrim - disse Erudhir.
-Vai piorar – acalentou Eld.







Ilustração de Amanda Mattos Della Lucia.

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